quinta-feira, março 31, 2005

O Anjinho


A pequena Carol estava doente, ela tinha apenas quatro anos e era a filha única da Dona Maria. Jáfazia três dias que ela havia adoecido, começou com uma febre, mas logo apareceram os enjôos, a moleza no corpo, a garotinha nem reconhecia mais a mãe. Seu pai era caminhoneiro e estava viajando, a Dona Maria não sabia mais o que fazer, elas moravam no interior, longe de tudo e de todos.

Como não houve melhora, desesperada Dona Maria resolveu levar a filha para ser cuidada na cidade mais próxima, a quase 7 horas de viagem, as duas foram de ônibus, ànoite e estava muito frio, Carol passou o tempo todo enrolada num cobertor, deixando de fora apenas uma parte do seu rostinho pálido e angelical, nesse período ela nem abria mais os olhos, já estava bem fraquinha, sua mãe ia rezando o tempo todo, pedindo para Deus ajudar sua filhinha, às vezes tentava conversar com a menina, mas a coitada não esboçava mais nenhuma reação.

Elas chegaram na cidade pela manhã, Dona Maria pegou um táxi e foi direto para o hospital, já entrou gritando e chorando, pedindo para alguém cuidar da sua filha, dois enfermeiros apareceram e tomaram a menina dos braços da mãe, ela perguntou se a menina iria ficar bem, mas eles nada responderam, pois, notaram que a garota já estava morta.


segunda-feira, março 28, 2005

Domingo à noite

Ele quer escrever
Ela quer dormir

Ele quer ouvir música
Ela quer conversar

Ele quer ficar sozinho
Ela quer ficar com ele

Ele quer tanta coisa...
Ela quer tão pouco!

Ele quer ser feliz
Ela já é.


quinta-feira, março 17, 2005

Manchete de Jornal



Pela última vez.

Naquela noite ele chegou como sempre: Cara enfezada, olhos vermelhos e cheiro de álcool no corpo, ela estava cansada como sempre, cansada de ser dona-de-casa, cansada do marido, cansada da vida...mais uma discussão, gritos, ameaças, agressão. "Vou embora", disse ela. "Eu te mato", disse ele. Ela ficou com medo, medo de morrer, medo de ficar sem os filhos, isso tinha que acabar!

Amor, ódio, morte e uma picareta.

Ela esperou ele dormir, pensou bem no que iria fazer, olhou o marido mais uma vez, queria saber se ele realmente estava dormindo, saiu do quarto, foi até o quintal, pegou a picareta, voltou, ele dormia, seu corpo estava ali na frente dela, frágil, a vida dele lhe pertencia, ela ergueu a picareta, pensou em todo sofrimento pelo qual já havia passado por causa dele, lembrou da dor, do medo, até que não existia nada dentro dela além do ódio. Um golpe! Metal contra ossos, um crânio partido. Outro golpe! Metal contra carne, sangue, vida, morte.

Da ira ao desespero.

Acorda meninos!! Acorda!! O que você faria logo depois de matar o seu parceiro? Ela fugiu, fugiu com seus filhos, fugiu sem destino, fugiu para mundo, sem direção, não sabia o que fazer, ninguém podia ajuda-la, estava desesperada, procurou ajuda onde menos se imaginava, ela chamou a policia, eles chegaram, eles a levaram, ela foi presa. Presa porque cansou de ser humilhada, presa porque cansou de ser espancada, presa porque disse basta, presa porque matou. Porém, apesar de tudo isso, ela se sente livre.



terça-feira, março 15, 2005

O Menino Onomatopéia


Minha mulher disse,
Que a mãe dele disse,
Que o pai dele disse,
Que o registrou com esse nome,
Por causa do barulho
Que um sapo fazia,
No quintal da casa deles,
Quando o menino ainda
Estava sendo gerado.
O sapo coaxava:
Ueberte! Ueberte! Ueberte!
Por isso o garoto se chama:
Webert!

Registraram o coitado
Com a onomatopéia da voz do sapo

Fico pensando... e se fosse um bode?
Béééééééééééééééééééééé!
O garoto se chamaria
Albéééééééééééééééééééééérto?

E se fosse uma vaca?
Muuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
O menino seria
Muuuuuuuuuuuuuuuuuuurilo?

E se fosse um cão?
Au! Au! Au!
Seria
Mauauaurício?

Já pensou se fosse um galo?
Co-co-ri-cóóó!
Cocoriclóóóvis???

Sabe de uma coisa?
Ainda bem que foi um sapo!


sexta-feira, março 11, 2005

Pedaços


...Juan acordou chorando
no meio da tarde, sua mãe ouviu
e correu para o consolar,
Maria entrou no quarto e o
abraçou forte, ainda chorando,
Juan pediu que a mãe lhe cantasse
uma música...


...Logo em seguida o
carro-bomba explodiu...


...Pedaços de ódio voaram
para todos os lados, pedaços de
concreto voaram para todos os lados,
pedaços de vida voaram
para todos os lados...


...Maria se arrasta ensangüentada
por entre os escombros, ela
canta baixinho e, morre abraçada com
o que restou do corpo do seu filho...


segunda-feira, março 07, 2005

Uma cova para mim



Eu morri, acho até engraçado dizer isso, pois até anteontem à noite eu estava vivo, não tenho certeza, mas acho que se eu não tivesse passado naquela livraria ao sair do trabalho, não teria tropeçado em nenhum degrau, não teria caído, não teria batido a cabeça e nem teria uma morte fulminante como falou o médico, dizem que na história não existe o se..., na vida também não, por issoprefiro não pensar muito no que aconteceria se eu estivesse vivo, além disso, morrer até que não é tão ruim. Não preciso mais acordar cedo para ir ao trabalho, nem tenho que pagar contas no final do mês. Posso ver tudo agora, enxergo o interior das pessoas, nesse momento minha família está chorando, essa parte é bem triste, porém existe um lado bom, pois já havia anos que todos meus familiares não se reuniam, agora estão juntos, chorando por mim, pelo jeito eu era bem querido, minha prima Eliana está linda nesse vestido preto, parece que finalmente encontrou um regime que funciona, ah, o Ricardinho também veio, não acho legal trazer crianças num enterro, mas ele já é um homem como costuma dizer, alem disso, insistiu tanto que tiveram que trazê-lo, vou sentir saudades de jogar vídeo game com esse danado, até meu tio Anísio apareceu, ele não se dá muito bem com minha mãe, desde a morte de meu pai, ela o culpou pelo acidente, afinal foi o Anísio que dirigia o carro, mas todos nós sabemos que ele não teve culpa alguma, minha mãe apenas descontou nele sua raiva por ter perdido o papai.
Hoje a mamãe queria me enterrar no mesmo cemitério em que meu pai está, ela acha que eu iria ficar feliz estando ao lado dele, no entanto minha mulher preferiu outro, que é mais bonito e lembra um jardim, como eu adorava cultivar a horta que tínhamos na casa lá do interior, ela acredita que eu gostarei mais daqui, o curioso é que nem na minha morte elas concordaram em alguma coisa, mas eu realmente não sei em qual dos cemitérios seria melhor, já estou morto mesmo, que diferença vai fazer? Durante meus três anos de casado, sempre pensei em ter um filho com minha mulher, mas preferimos esperar, um pouco, não sei se foi certo ter esperado, seria bom ter uma cria, um filhote meu, talvez se eu fosse pai, nem estivesse morto agora, os seres vivos só estão na terra para perpetuarem a espécie, como não fiz isso, acho que a Dona Natureza deve ter pensado: Esse ai não tem serventia nenhuma para mim, vou dar um fim nele, e então: Pluft! matou-me, ah, ela bem que poderia ter caprichado mais no meu fim, poxa, morrer de uma queda de uma escada comapenas quatro degraus? Se fosse uma escadaria enorme pelo menos, mas quatro degraus? Acho que se acontecesse com outra pessoa, minha mulher estaria rindo agora, ela possui um ótimo senso de humor, vou sentir falta dela, das suas gargalhadas, ela veio hoje para o enterro com o vestido azul escuro que usava quando nos conhecemos, lembro muito bem daquele dia, ela estava linda e sorridente como sempre, foi paixão a primeira risada, como ela costuma dizer, hoje também estou vestido com uma roupa especial, smoking, compramos para ir a uma festa, porém acabamos nem indo e o smoking ficou guardado, eu dizia sempre que só iria usá-lo quando morresse, queria ser um morto chique, ela não esqueceu, e hoje sou um morto chique! Mas agora tenho que ir, meu enterro está no fim, já irão me por dentro da cova, chegou a hora de descansar em paz, tchau, nos falamos de novo quando vocês morrerem também.


sexta-feira, março 04, 2005


A novela da minha vida
Capitulo 15


Quadrilha Junina. (para a garota que não sei o nome)


Você já teve uma grande paixão quando era criança, dessas que fazem agente ficar olhando para o nada, com cara de bobo? Eu já, foi na minha longínqua infância, não sei o seu nome, de onde ela veio, nem pra onde ela foi, apenas lembro dela e da semana em que passamos juntos, da semana que ela foi minha e eu fui dela (ou quase isso).


Viva a São João! (e a pró Lucidalva também!)

Estávamos no mês de Junho, mês das laranjas, dos milhos, dos amendoins e das festas juninas, minha professora Lucidalva (outro grande amor da minha vida), resolveu fazer uma quadrilha de São João com os alunos dela, então foram organizados os pares, eu fiquei de fora, pois não quis participar (a dona timidez não deixou), porém eu toparia se meu colega Angelito não tivesse escolhido minha grande paixão para dançar, acho que foi amor (de criança) à primeira vista, eu não conhecia aquela garota, acho que era de outra sala e só foi incluída na quadrilha, para completar os pares, mas isso nem importava, pois eu estava apaixonado.


Angelito não sabe dançar! (Lá lá lá lá lá, bem pouco!)

Os ensaios para a apresentação da quadrilha eram feitos dentro da sala, eu assistia todos e morria de inveja do Angelito, na verdade não sentia muita inveja, pois ele dançava muito mal e sempre errava os passos, de tanto errar a professora resolveu tirar ele da quadrilha. (na verdade ele é que pediu para sair, mas prefiro dizer que foi expulso, pois faz eu me sentir vingado). Advinha quem ela chamou para dançar com a minha paixão? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu! Yeeeeessssssssssssssss!


E com vocês: O parceiro Alex! (Xiii, ela é mais alta do que eu!)

Ela estava linda naquele dia, a pele macia, os cabelos loiros, suas mãos estavam quente e eu estava no céu, como assistia todos os ensaios, já havia decorado os passos da quadrilha, por isso comecei a ensaiar no mesmo dia em que o Angelito saiu (expulso), foi lindo, poder dançar com minha paixão, sentir os dedos dela escorregarem pelos meus, olhar nos olhos dela, bem isso eu não fiz, pois ela era mais alta do que eu, mas pude dançar olhando a sua boca que também era linda, ah, que boca linda tinha ela...


Chegou o dia da apresentação (Mamãe pra que esse lápis?)

Camisa de quadrinhos, chapéu de palha, calça jeans com retalhos de tecido colorido costurados nas pernas e, é claro: barba, costeletas e bigode desenhados no meu rosto com lápis delineador. Era assim que eu estava vestido (eca!). Eu proibi minha mãe de me ver dançar a quadrilha, ficaria com vergonha se ela estivesse lá me olhando durante a apresentação (mas ela foi escondida e viu tudo), por isso, fui sozinho para a escola nesse dia, lembro da sensação de estar sendo observado por todo mundo, por causa da barba pintada em meu rosto, mas quando cheguei na escola passou (meus colegas estavam ridiculamente pintados como eu).


Olha a quadrilha! (E agora? Meu chapéu caiu!)

A apresentação foi um sucesso, não erramos nenhum passo, fizemos tudo certinho, ou quase, meu chapéu caiu quando eu estava dançando, eu não sabia se soltava a mão de minha paixão e pegava o chapéu, ou se terminava a apresentação sem ele, achei melhor pegar, dei sorte que não atrapalhou em nada e terminamos a apresentação aplaudidos de pé (mesmo porque, não havia cadeiras para sentar). E foi assim que minha paixão foi minha pela primeira e única vez, não lembro dela no dia seguinte, não lembro nem do dia seguinte, mas desse nunca vou esquecer.






quinta-feira, março 03, 2005


"...Maria se arrasta ensangüentada por entre os escombros, ela canta baixinho e, morre abraçada com o que restou do corpo do seu filho..."

terça-feira, março 01, 2005



Hades

Eu quero morrer.
E que minha morte
Seja bem lenta,
Prazerosa e violenta.
Eu quero morrer queimado,
Em fogo bem quente,
E quero sentir as chamas
Abrasando minha pele.
Eu quero arder,
Ser envolto em labaredas,
Carbonizar de prazer
E virar um monte de cinzas,
Sobre os pêlos do teu sexo.


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