sexta-feira, fevereiro 25, 2005

7...6...5...4...3...2...1...FIM.



Maria tem 37 anos, é solteira, não tem filhos, não tem ninguém, mora sozinha no sétimo andar de um apartamento alugado, tinha um cachorro que lhe fazia companhia, mas ele morreu, ela sofre de depressão, por muitas vezes pensou em se matar, mas nunca teve coragem, hoje, depois de refletir muito, ela resolveu acabar com sua vida inútil - Por que continuar viva? Não farei falta a ninguém - pensa ela. Maria sobe na janela do seu quarto e olha para o horizonte, dá para ver o mar dali, ela hesita um pouco, pensa em não pular, olha para trás, vê o quarto vazio, a cama de solteiro que ela acha enorme, os ursinhos de pelúcia, a solidão... então ela dá adeus a tudo, e pula:

Para Maria sua queda parece ser em câmera lenta, é como se o tempo parasse só para ela aproveitar seus últimos momentos de vida.

Ao passar pelo sexto andar, ela recorda do seu primeiro dia na escola, ela lembra o quanto chorou, lembra como ficou feliz quando reencontrou sua mãe no final da aula, então ela sorri, pois sabe que sua mãe a estará esperando novamente.

Quinto andar: A primeira paixão, Eduardo nem deve mais lembrar dela, mas foi com ele que aconteceu o primeiro beijo da Maria, onde será que ele anda? Será que é feliz? É o que ela não pára de se perguntar.

No quarto andar Maria lembra que não pintou as unhas essa semana - Será que alguém vai notar que estou com as unhas feias? - pensa a vaidosa suicida.

A três andares do final Maria pensa no Mike, seu cãozinho poodle que morreu atropelado: Para onde vão os cães quando eles morrem? Acho que ficam no céu esperando os donos com o rabinho balançando.

Segundo andar: - O horizonte está lindo hoje, nunca achei o mar tão belo, será que já estou no paraíso? Ou seria mais um dos meus delírios?

Primeiro andar: ÊXSTASE! Não há mais pensamentos, não há mais nada, só êxtase.

Térreo: Maria tinha 37 anos, era solteira, não tinha filhos, não tinha ninguém, ninguém.


sexta-feira, fevereiro 18, 2005

A Noiva da Estação



Maria olha para o relógio na parede e, percebe que já está quase na hora, então, ajeita o cabelo, o buquê, o véu, o vestido, retoca o batom. Ela ouve o barulho do trem e sorri, as pessoas na estação a olham com curiosidade, alguns se afastam, outros cochicham, enquanto que as crianças ficam apontando em sua direção, porém, ela não vê nada disso, pois só tem olhos para o trem que se aproxima. 

O trem pára, o coração dela bate acelerado, os passageiros começam a descer, ela procura desesperadamente pelo rosto dele, procura, procura, mas não encontra, ele não veio. Prometeu que um dia voltaria, que desceria na estação, que iriam se casar, que teriam vários filhos, que seriam felizes para sempre. Porém, nunca mais apareceu. 

Maria retorna mais uma vez para casa, sem reencontrar seu grande amor, sem sorriso no rosto. Ela olha para trás, vê o trem indo embora... Maria faz isso todos os dias, hávinte e cinco anos, e nunca desiste, pois um dia ele vai voltar, um dia ele vai voltar, um dia...


terça-feira, fevereiro 15, 2005

Mel


Ela dorme
Usando apenas uma camisa,
A mesma que me deu de presente, no último aniversário,
Sua perna, lisa e branca, está enroscada em minha cintura,
A cabeça recostada em meu ombro,
O braço sobre meu peito.
Seguro sua mão,
E sinto o metal dourado em seu dedo.
Naquele instante,
Naquele mísero instante,
Eu sou feliz.



quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Poesia do cotidiano II


Ela sonha agitada ao meu lado,
Acorda assustada e me abraça forte,
Sinto seu coração batendo acelerado,
Seu corpo suado e trêmulo:
- Promete que nunca vai me deixar?
Digo apenas, sim.
E ela volta a dormir,
Chorando baixinho sobre meu peito.

Em noites como essa, eu quase acredito no amor,


Quase.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Amargo


Tudo bem
Eu reconheço
Sei que sou frio
Sei que sou amargo
Não queria ser assim
Pois ser doce é muito bom
Mas o mundo está mudando
E os doces vão morrer primeiro
Não enxergam o mundo como ele é
Para eles tudo é poesia, tudo é melodia
São gostosos de provar, saborosos pra comer
Serão os primeiros a tombar, os primeiros a sofrer
Por isso eu prefiro ser amargo, padecerei menos
Além disso, eu vejo o mundo sem maquiagem
Sei que existem muitas coisas erradas por ai
E também sei que elas não vão mudar
Mas não posso ser indiferente a tudo
Por isso, faço minha parte: critico
Enfio meu dedo nas feridas
Mostro os erros que vejo
Talvez não resolva
E nada mude
Talvez


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