segunda-feira, janeiro 31, 2005

A Difícil Arte de Morrer



Maria quer se matar
Mas ainda não decidiu como
Já pensou em tomar veneno
Mas este mata devagar
E a Maria quer morrer logo
Um dia resolveu que se suicidaria com um tiro
Mas ela não tem arma
Chegou até a pensar em comprar uma
Mas ela não possui porte
Achou que poderia conseguir com algum bandido
Mas seria crime
E Maria quer morrer
Mas não quer ser criminosa
Pular da janela do apartamento seria uma boa idéia
Mas poderiam achar que foi acidente
Então todos diriam:
Coitadinha da Maria
Escorregou lá de cima e caiu
Tão jovem...
Maria não quer que tenham pena dela
Ela quer se matar!
Um dia resolveu que iria fumar
Se desse sorte
Poderia adquirir um câncer e morrer
Mas o cigarro a deixou com os dentes amarelos
E um hálito horrível
Então ela desistiu
Morrer enforcada está fora de cogitação
O morto fica com marcas horrorosas no pescoço
E Maria que ser uma morta bem bonita
Também não vai cortar os pulsos
Ela acha que é coisa de maluco
E não quer ser confundida com uma louca
Suicida sim
Louca não!
Uma vez ela quase se atirou na frente de um carro
Mas na hora H desistiu
Achou que não daria certo
Ela podia não morrer e ficar paralítica
Ou o motorista poderia ser dos bons e desviar
Já pensou também em se afogar
Mas na piscina sempre tem alguém por perto
E no mar ela tem medo
Uma vez ela viu uma mulher se matar em um filme
A mulher se eletrocutou
Jogou um secador na banheira em que tomava banho
Maria queria imitá-la
Mas não possui banheira
E seu secador está quebrado
É por todos esses motivos que Maria continua viva
Mas ela quer se matar



sexta-feira, janeiro 28, 2005


"Eu vi a cara da morte e ela estava viva"
(Cazuza)


Sob todas a cores

Eu era criança, porém lembro que o carro era amarelo, o garoto era branco e tinha cabelos negros, seu sangue vermelho escorria sobre o asfalto cinza e quente, minha mãe tentou me impedir de ver tudo aquilo, mas eu vi, eu vi a vida dele se esvaindo sob todas aquelas cores, vi a morte chegar, flutuando debaixo do céu azul, porém, não sei qual era a cor dela, não sei, infelizmente um dia hei de saber, todos vamos, todos.



quinta-feira, janeiro 27, 2005


Ela chega em casa

Tira a roupa
Entra no boxe
Liga o chuveiro
Olha a água cair
Pensa nele
Molha os pés
Pensa nele
Molha o corpo
Passa o xampu
Espera um minuto
Enxágua o cabelo
Passa o creme hidratante
Espera dois minutos
Enxágua o cabelo
Passa o sabonete
Passa o condicionador
Espera dois minutos
Enxágua o cabelo
Enxágua o corpo
Desliga o chuveiro
Sai do boxe
Calça o chinelo
Pega uma toalha
Enrola na cabeça
Pega outra toalha
Se enxuga
Veste um roupão
Vai para o quarto
Senta em frente ao espelho
Passa o creme para rugas
Passa o creme para os seios
Passa o hidratante para as pernas
Seca o cabelo
Prende o cabelo
Tira o roupão
Veste a calcinha
Veste uma blusa
Deita na cama
Pega um livro
Tenta ler
Desiste
Pensa em ligar pra ele
Desiste
Liga a tv
Programa para desligar em uma hora
Fecha os olhos
Pensa nele
Vira pro lado
Pensa nele
Vira pro outro
Pensa nele
Resolve assistir a tv
Dorme
Sonha com ele
A televisão desliga




terça-feira, janeiro 25, 2005

No dia em que eu for...

No dia em que eu for embora
Não quero pranto
Nem rostos tristes
Não quero dor
Nem lamentações
Eu quero sorrisos
Muitos sorrisos
E quero sol!
Nada de dia choroso
No dia em que eu for embora
Não use preto
(A menos que fique muito sexy em você)
Sorria pra mim
Pense em uma coisa boa
Dê-me um beijo
Diga adeus e seja feliz.



segunda-feira, janeiro 24, 2005

Acaso


Eles não acreditavam em amor à primeira vista
Mas foi justamente à primeira vista que se apaixonaram
Tudo começou com alguns olhares
Logo, já estavam conversando
Parecia que tinham nascido um para o outro
Trocaram números de telefone
Marcaram de se verem no dia seguinte
Porém, o destino não permitiu que isso acontecesse
Os papéis com os números se perderam
Ela ficou doente e não pôde comparecer ao encontro
Ele ficou esperando a linda moça que nunca apareceu
E a moça olhando para o telefone que nunca tocou
Parecia que tinham nascido um para o outro
E nasceram, mas não foi dessa vez
Quem sabe em uma próxima vida?




sexta-feira, janeiro 21, 2005

Cinco

São apenas cinco passos da cama até a janela, Maria pensa isso desde o dia em que todos foram embora, ela agora está sozinha, sente saudades da mãe, do pai, do cão, de Andréia. Maria se culpa pelo que aconteceu, todos se foram, todos menos ela.
É uma manhã ensolarada de sábado, Maria está sentada na beira da cama, depois de passar a noite inteira acordada, uma brisa macia entra pela janela e, acaricia seu rosto inchado de tanto chorar, a luz do sol incide sobre a foto em sua mão e torna o sorriso de Andréia ainda mais bonito. Maria fecha os olhos e uma lágrima escorre do seu olho, é uma manhã tão bonita... são apenas cinco passos da cama até a janela.




quinta-feira, janeiro 20, 2005

Maria sem cabeça

O corpo de Maria está sentado na cama.

O corpo de Maria está sentado na cama, mas não sabe que está sentado na cama.

O corpo de Maria está sentado na cama, mas não sabe que está sentado na cama, pois o corpo de Maria não tem cabeça.

Por onde anda a cabeça da Maria?

A cabeça de Maria anda pelo carpete do quarto

A cabeça de Maria anda pelo carpete do quarto, mas não sabe que anda pelo carpete do quarto.

A cabeça de Maria anda pelo carpete do quarto, mas não sabe que anda pelo carpete do quarto, pois a cabeça de Maria não tem corpo.

Onde está o corpo de Maria?

O corpo de Maria está sentado na cama...



quarta-feira, janeiro 19, 2005


A última poesia não tem título
Não tem métrica
Não tem rima

A última poesia não diz nada
Pois é muda
E é surda
E é cega

A última poesia não chegará a lugar algum
Pois não anda
(Engatinha em círculos)

A última poesia foi feita em três minutos
Lida em um
Esquecida em meio

A última poesia terminou
Não falou de amor
E nem explodiu no final


terça-feira, janeiro 18, 2005


04/04/76


No dia em que eu nasci:
Chorou minha avó
Chorou minha tia
Chorou minha mãe...
Mil choros de alegria
(Até o Domingo chorou)
E eu vendo tanto choro...

Fui ao pranto também




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